18/01/2023 15:43
Sabia que sistemas tão fundamentais como o ABS, o airbag ou os cintos de três pontos de fixação, equipados com tensores e limitadores de esforço, foram preconizados por um automóvel-laboratório da Mercedes-Benz? Apresentado em 1973, no Japão, o ESF 22 foi um dos mais inovadores Veículos Experimentais de Segurança (ESF, na sigla alemã), tendo por base o Classe S W116.
Desde o início da década de 1970 que a Mercedes-Benz vinha a construir automóveis experimentais para investigar os futuros sistemas de segurança. Estes verdadeiros laboratórios sobre rodas, denominados Veículos Experimentais de Segurança, ou ESV/ESF, ajudaram a trilhar o caminho para numerosas inovações, algumas das quais só foram incorporadas num automóvel de produção em série anos mais tarde. Entre estes destacam-se o ABS, os quatro cintos de segurança de três pontos de fixação, os tensores dos cintos com limitadores de força, o airbag e os sistemas de proteção contra impactos laterais. Outra característica especial era a secção frontal alargada com amortecedores de impacto hidráulicos.
No final dos anos 60 do século passado, era impossível ignorar um dos maiores desafios colocados pela motorização em massa das populações: um número crescente de pessoas morria em acidentes de viação. Sempre à frente do seu tempo, em particular no que à segurança diz respeito, em 1970 a Mercedes-Benz já tinha dado luz verde aos projetos ESF (veículos experimentais de segurança) que, em Sindelfingen, avançavam a toda a velocidade. Os primeiros testes destes laboratórios rolantes tiveram lugar a 12 de março de 1971, recorrendo a um W114 de produção em série, assumindo a forma de um impacto frontal a 80 km/h contra uma parede fixa. Os testes também incluíram impactos traseiros, testes de impacto lateral contra mastros e outros veículos, e também testes de queda a partir de uma altura de 0,5 metros. Assim, em outubro de 1971, a Mercedes Benz apresenta o ESF 05 na 2ª Conferência Internacional ESV, em Sindelfingen.
Segurança como prioridade
No entanto, o foco da Mercedes-Benz não se esgotou apenas na proteção dos ocupantes em caso de acidente, com base na correspondente melhoria das estruturas dos veículos e dos novos sistemas de retenção. Mesmo há mais de 50 anos, a Mercedes-Benz adotou uma abordagem contínua e abrangente à segurança, como mostra uma descrição do ESF 13 apresentado em maio de 1972. Esta contém termos tão atuais como “segurança através do conforto dos bancos”, ou “eficácia da climatização e da redução de ruídos e vibrações (NVH)”, tudo contributos para o bem-estar do condutor e da diminuição da fadiga. Além disto, o ESF 13 incluía controlo pneumático da altura do feixe luminoso dos faróis dianteiros, limpa-faróis, limpa-vidros traseiro, avisador do estado dos farolins traseiros no interior e detalhes de pintura exterior que realçavam a visibilidade do automóvel.
O depósito de combustível já estava numa posição que minimizava o risco de incêndio e tinha um mecanismo que desativa a bomba de combustível se houvesse uma perda de pressão. O próprio sistema tinha uma válvula que impedia o derrame se o carro capotasse e até os materiais utilizados no interior eram ignífugos.
A inovação do ESF 22
O Veículo de Segurança Experimental ESF 22 foi o terceiro marco no Programa ESV da Mercedes-Benz e levou as preocupações da marca da estrela com a segurança passiva e ativa a um novo patamar. Baseado diretamente no Classe S W116, que, por si, já era um dos automóveis mais inovadores do mundo, esta berlina com 5240 mm de comprimento e mais de duas toneladas de peso recorria a uma panóplia de elementos de segurança que aumentavam consideravelmente a hipótese de sobrevivência num impacto frontal a 65 km/h contra uma barreira indeformável. Entre os sistemas mais evoluídos destacam-se os airbags, os pré-tensores dos cintos com limitadores de força e o sistema ABS de controlo eletrónico, dispositivo de segurança que, hoje, consideramos imprescindível - ao ponto de se ter tornado obrigatório - e que passou a ser opcional no Classe S W116 em 1978. Um dos detalhes mais curiosos do ESF 22 eram os enormes e sobressaídos para-choques dianteiros de 245 mm, que estavam equipados com sistemas hidráulicos de absorção de impactos.
Todos estes elementos proporcionaram uma excelente base para o ESF 24, o último dos Veículos Experimentais de Segurança da Mercedes-Benz durante a década de 70. Aliás, o relatório final dos testes, em 1975, chegou à mesma conclusão ao afirmar que “o ESF 24 encerra o projeto, uma vez que representa o melhor compromisso possível entre os requisitos originais do ESF e os nossos modelos de produção atuais”.
As ideias concretizadas durante os desenvolvimentos dos ESF entraram em produção em série nos modelos Mercedes-Benz em rápida sucessão. Alguns marcos são:
• 1978: Introdução em série do sistema de anti bloqueio da travagem - ABS.
• 1980: Introdução em série do airbag do condutor e dos tensores dos cintos como uma inovação mundial.
· 1995: Limitadores de força dos cintos e os airbags laterais são adotados na produção em série.
A Mercedes-Benz também introduziu na indústria várias outras características inovadoras na segurança ativa e passiva, sendo, inegavelmente, uma das marcas que, ao longo da sua história, mais se destacou neste campo. Uma tradição que ainda hoje perdura. Mas o legado dos ESF não se perdeu na década de 70, já que em 2009 a Mercedes-Benz apresentou um novo Veículo Experimental de Segurança: o ESF 2009, baseado num Classe S 400 Hybrid (W222) e com 13 inovações no capítulo da segurança.